Queria escrever outras coisas que não sobre passos
A vida é cheia de tantos senões, tantos porquês…
Mas, em tudo que vejo, há passos em minha volta
Eu ando e produzo percursos todos os dias e noites
Delineio mapas e enceno novas espacialidades agora
E no agora eu, efetivamente, penso sobre tudo que ocorreu
As estradas que deixei pra trás, as trilhas que esqueci
As picadas que tive que abrir em meio a tantas urzes
Os desafetos que fiz, os amores que consegui,
As percepções do espaço que pude captar até hoje
Não há mais que, apenas, avaliar essa trajetória nada linear
As músicas que compus, as falas que recitei, os beijos que dei,
Os amores que nutri, os afagos que fiz, as luzes que plantei,
Não há mais que, apenas, entre um calar e outro de meu pensar
Cair em si, deixar ser atravessado pelo seu poder
Permitir que emoções banhem minha mente tão cartesiana
Não sei bem como dizer o que acontece quando elas fogem
Quando não aparecem mais, escasseiam, minoram
Dá vontade de voar, de subir bem alto, catando, buscando
De saltar na imensidão do azul, procurando a estrela
Onde elas estão escondidas, vivas, pulsantes, ansiosas
Queria escrever outras coisas que não sobre passos
Mas, hoje, especialmente, elas fogem de mim
Causam-me dor, solidão, falta, um aperto no peito
Resta-me, pobre e desanuviado, ir bem alto
E ficar entre uma música e outra, procurando elas
As palavras.
29 nov 2012