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Passos

Queria escrever outras coisas que não sobre passos

A vida é cheia de tantos senões, tantos porquês…

Mas, em tudo que vejo, há passos em minha volta

Eu ando e produzo percursos todos os dias e noites

Delineio mapas e enceno novas espacialidades agora

E no agora eu, efetivamente, penso sobre tudo que ocorreu

As estradas que deixei pra trás, as trilhas que esqueci

As picadas que tive que abrir em meio a tantas urzes

Os desafetos que fiz, os amores que consegui,

As percepções do espaço que pude captar até hoje

Não há mais que, apenas, avaliar essa trajetória nada linear

As músicas que compus, as falas que recitei, os beijos que dei,

Os amores que nutri, os afagos que fiz, as luzes que plantei,

Não há mais que, apenas, entre um calar e outro de meu pensar

Cair em si, deixar ser atravessado pelo seu poder

Permitir que emoções banhem minha mente tão cartesiana

Não sei bem como dizer o que acontece quando elas fogem

Quando não aparecem mais, escasseiam, minoram

Dá vontade de voar, de subir bem alto, catando, buscando

De saltar na imensidão do azul, procurando a estrela

Onde elas estão escondidas, vivas, pulsantes, ansiosas

Queria escrever outras coisas que não sobre passos

Mas, hoje, especialmente, elas fogem de mim

Causam-me dor, solidão, falta, um aperto no peito

Resta-me, pobre e desanuviado, ir bem alto

E ficar entre uma música e outra, procurando elas

As palavras.

 

29 nov 2012

Eu estou assim, nostálgico, impávido, colosso

Os dias se passam muito devagar ultimamente

Tenho em mim desejos múltiplos, sonhos e devaneios

As pressões somam-se à toda minha angústia

Meu nervosismo, meu medo, minha espera

Penso em você nesses dias

Penso em sempre estar com você

E lembro de nossos bons momentos juntos

Faz tempo que estive com você, quase eternidade

Quero-te de novo, todinho, inteiro só pra mim

Quero que essa maré de angústias passe logo,

Que o caos dessas ânsias da vida vá embora,

Que eu possa sentar meu prumo num canto certo

E que você esteja contigo, do meu lado

É o que quero, é o que sinto, é que te amo.

 

Em 25 nov 2012

Queria

Queria sentir-te mais perto, mais tranquilo

Mais confiante no que faço, no que sou

Mais cioso do que quero para nós dois

Queria que tudo fosse diferente, como antes

Daquele jeito que você conseguia me seduzir

Com seus carinhos, seus textinhos, seus afagos

Com a atenção dispensada que me dava

Queria que tudo fosse como antes,

Que nem você me tratava ou sonhava com o amanhã

Queria só que você voltasse pra mim

Daquele jeito, do seu jeito

 

19 nov 2012

Luta feroz

Na noite fria e escura dorme um caçador

Na espreita de sua presa, ele sonha, ele mira

Ele faz o mínimo de movimento, seguro

Acocora-se pelas brenhas dos montes escalvados

Aproxima-se com cuidado do seu alvo

Posiciona-se de modo a poder fitar-lhe

Calcula, com balística precisa, toda sua trajetória

Faz planos para os momentos pós-caça

Vibra, sorri, emudece pela sensação do prazer futuro

Mas, eis que a caça vai embora, acossada

Foge instantaneamente e alça vôo pela mata

Que fazer? –  diz o caçador

Vou tomar uns cálices de vinho, oras – rebate ele

Já que não posso caçar a minha presa, a escrita

Permitirei estar lânguido, embriagado, nas nuvens

Vou deixar que o sono venha me caçar,

Me achar, me domar, me fazer seu

E dormir.

 

Em 31 out 2012

 

Os sonhos são lutas
Do ideal e do real
São batalhas inglórias
Momentos frugais
Prescrevem os dias
Brindam as horas
Tudo passa pela cabeça
Desejos cândidos,
Vontades suspeitas,
Situações esguias,
O inesquecível
Mas, é real?
Ou irreal?
Quem saberá?
São sonhos…

27/10/2012

 

Um dia qualquer, um lugar a jusante do meu querer

As fímbrias de um comprometimento metendo-me medo

A delícia de poder imaginar outras praias, sorvendo seus sabores

Deliciando-se de seus olores, certificando-se de suas almas,

Um momento de clivagem entre o real e o irreal, mundo de quimeras

Entre o que se sente e o que se deseja (inconscientemente) sentir

A devassa dos caminhos todos das praias que emergem no gozo do sonhar

A prática dos espaços que ronda a mente, ainda flabelada de prazeres

As coisas mais recônditas da gaveta de fundo falso da mente humana

Sonhos com praias, suas águas, seus mares, suas marinhas, suas pedrinhas

Quando a carioteca da sanidade beira o extremo do inconfessável

 

Em um dia qualquer de setembro de 2012

(Sem título)

Você faz-me ficar ensimesmado
Extrapola o meu auto-conhecimento
E meu senso de entendimento das coisas
Que antes achava ilibado, mostra-se sem tez
Não sei se abro (demais) o foco da objetiva
Ou se capto as imagens com (baixa) velocidade
A vida é um crisol de escolhas e encruzilhadas
Cada vez mais não sei por onde seguir

 

29 out 2012

Barco a remo

O pensamento do dia era o de escrever um texto sobre a tristeza. Amanhecia o dia, vinha a noite, coração na mão, vazio pela falta de quem o completa, uma melancolia doida, um desejo que não cessava de dizer o quanto o queria. E daí a pouco, matutando na frente do computador, uma música romântica ali, uma canção falando de saudade por acolá, um olhar para a sua foto no porta-retratos em cima da estante, umas gotas do perfume que ele gosta esparramadas no seu pulso, como se elas pudessem transportar-lhe até o outro lado da terra. Correndo contra a substância do tempo, fazendo gracejo com palavras bobas e sem noção, brincando de pedreiro com prefixos, sufixos e rimas pobres, ele ia compondo paredes de uma pequena casa, cheia de versos tão ingênuos quanto o amor que pulsava no seu peito. E, como operário persistente, ele repetia de forma incansável, vez ou outra, quando o não-estar-junto apertava, o ato de levantar paredes cheias de versos, umas mais úmidas de tanto cimento, outras mais secas, quase que nem o pedra-e-cal esturricado que ele via nas cabeceiras do riacho nos tempos do saudoso inverno. E vivia daquele jeito, ermo, esperando que sua pequena casa, embora incompleta, imperfeita e cheia de rachaduras pudesse impressionar quem lhe fazia falta, ainda que não houvesse móvel algum a adornar o seu interior. Mas, nunca sabia de nada: se impressionava, se tocava, se era considerada, se era, ao menos vista e depois desprezada. Não tinha ideia se seus ensonados versos ecoavam no coração alheio, fazendo nascer, ainda que fosse, uma flor cor-de-bonina, ou se se tornavam estéreis logo que eram publicados. As fotos que lhe ofertara, pela rede ou à moda antiga, reveladas, com dedicatória atrás, não sabia que efeito tinham provocado – se é que tinham. Ele vivia desse jeito, olhando para o tempo quente que entrava no seu quarto pela janela desbotada, esperando que a brisa do cair da noite lhe trouxesse algum aceno de que as paredes que vivia a erguer, com argamassa de dentro do seu coração entusiasta, de alguma maneira tornassem-se sólidas no coração que tanto desejava. Mas, certa hora, na boquinha da noite, após efetuar duas chamadas sem sucesso, o seu amor retornou a ligação e se falaram. E ele foi intuindo que amor era daquele jeito mesmo, cada um em ritmo, tempo e espaço diferentes; que não se deveria buscar um amor que correspondesse, fielmente, ao que se idealizava na sua cabeça; que não se deveria esperar tempestades de nuvens que não estavam continuamente carregadas; que não se deveria imaginar que as pessoas eram obrigadas a lhe amar do jeito que você acha que devem. E aí ele foi se tocando que não deveria escrever um texto sobre tristeza, mas, um escrito qualquer, um pedaço de prosa, que falasse das coisas da vida, de como elas estão sempre em movimento e de como as ideias das pessoas – sobre si e sobre os outros – mudam com a mesma velocidade com que o clima muda, do dia pra noite. P.S.: Ele continuava seguindo em frente, do mesmo jeito, como uma nuvem torrencial, um relicário cheio de emoções, um almofariz lastrado de amor, porque era sua sina.

 

Em 22 out 2012

Perturbação

Dias de domingo movidos a vontades, só vontades,

Dias incompletos, derruídos, quase mortos

Mutilados pelo vento corrosivo da saudade que fisga o peito

Agonia de não poder ser o dono de seus olhos e o desejo

Das palavras doces, ou tortas, ou meigas, do seu jeito

Do afago singelo como a linda flor da beira da calçada

Do olhar enviesado, de quando você me fita, eu distraído

Me tirando de tempo, com brincadeiras bestas, num lampejo

De criancice e ingenuidade – aquelas de que sinto falta

Nem a mais bela das canções exprimiria a minha sede

De viajar, ainda que de raspão, pelo castanho de seus olhos

De amanhecer ao seu lado e sentir o calor do seu corpo

De suportar, ao seu lado, a impetuosidade das ventanias

E o perfume gélido do ambiente austero do seu quarto

O que é viver assim, mendigando favores do tempo e do espaço?

Tantos rumos, tantas possibilidades, tantos pensamentos

Passar dias sem te ver é experimentar o amor de dias incompletos

 

Em 22 out 2012

Tempestade

Borboletas na janela

Vibrações e desejo

Vento quente e ácido

Trancado nessa cela

Buscando o ar que desejo

Por que tanto te almejo?

Hein, meu amor plácido?

Borboletas, sonho

Metamorfose, inverno

Irascível me indisponho

A não ter seu beijo terno

Saudade, verdade, tempestade